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Manifesto plurilinguista e sesquilinguista

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Manifesto plurilinguista e sesquilinguista

A diversidade linguística dota o ser humano da possibilidade de procurar, mediante o exercício da humildade que constitui a aprendizagem de uma outra língua ou línguas, a comunicação com outros seres que têm uma outra maneira de denominar e de ver os objetos do mundo.

Enviada por -Xavier -Xavier o 26/09/2009 15:51

Hoje, 26 de setembro, celebra-se o Dia Europeu das Línguas, que coincide também com a celebração do Dia das Pessoas Surdas. Este tipo de celebrações procuram essencialmente chamar a atenção para algum tipo de temas que necessitam ser reivindicados ou festejados. Não serei eu quem esteja contra este tipo de celebrações por serem em ocasiões meramente institucionais, mas é por isso que não devem ficar apenas em meras representações simbólicas e rituais de importantes questões que a todos e todas deveriam preocupar-nos, nalguns casos, e que, noutros, deveriam interessar-nos especialmente.

Se preocupante é o status legal que hoje em dia têm as pessoas surdas e o exercício dos seus direitos em diferentes âmbitos da vida educativa, económica, cultural, social, etc., carecendo em inúmeros casos dos direitos que assistem às pessoas das "línguas de Estado" impostas em cada um dos Estados membros da União Europeia (e do mundo), interessante é também a maravilhosa oportunidade e o privilégio de contarmos na Europa (como no resto do mundo) com uma diversidade linguística histórica que devemos aproveitar para compreeendermo-nos e compreendermos melhor o sentido da natureza humana num exercício de aprendizagem e (re)conhecimento que só pode contribuir a um mundo de relações sociais, culturais, económicas, e, em resumo, humanas, mais justas e equilibradas, isto é, para criarmos a necessária cultura da paz de que tanto precisamos.

Sendo hoje o Dia Europeu das Línguas, cumpre lembrar que as línguas signadas, usadas especialmente polas pessoas surdas, mas não só, são línguas humanas com uma estrutura interna e uns usos externos idênticos aos das línguas faladas. E isso acontece porque a identidade das línguas signadas é essencialmente a mesma que a das línguas faladas, e porque ambas pertencem à mesma espécie linguística, ao manterem todas as línguas humanas (signadas e faladas) caraterísticas comuns como a capacidade para transmitir informações, fazer perguntas e dar ordens, descrever e narrar acontecimentos, explicar razoamentos e reflexões, falar ou signar aquilo que se imagina, que se sonha ou que se deseja, assim como a possibilidade de dizer a verdade ou mentir, a possibilidade de explicar sentimentos e emoções ou a de refletir a respeito da própria expressão linguística, ou mesmo a de criar expressões de beleza através das próprias línguas, não só no âmbito literário, mas também no diálogo direto.

Ao comprovarmos que todas as línguas são essencialmente iguais quanto aos elementos estruturais em que se organizam, ao verificarmos que todas as línguas têm possibilidades comunicativas apropriadas às necessidades linguísticas específicas das pessoas e dos povos que as falam, concluiremos que a igualdade e a diversidade linguística são duas caras de uma mesma moeda. O ser humano, diverso nas suas manifestações linguísticas, culturais, económicas, organizativas, etc., é idêntico nas caraterísticas que o definem como tal e em toda a parte tem essencialmente as mesmas preocupações vitais básicas. Podemos concluir também, portanto, que a diversidade, linguística e de qualquer outro género, é um fator que nos identifica como seres humanos. Sermos diferentes é aquilo que nos une. Destarte, é a diversidade linguística e humana num sentido geral um tesouro que devemos conservar e potenciar, normalizando os diferentes âmbitos linguísticos em cada uma das suas áreas e países na Europa e no mundo, normalizando as línguas naturais nas nações correspondentes, e abrindo espaços de confluência e de contatos entre as línguas, nomeadamente entre as mais próximas genética e geograficamente, mas não só. É preciso sublinhar que a diversidade linguística dota o ser humano da possibilidade de procurar, mediante o exercício da humildade que constitui a aprendizagem de uma outra língua ou línguas, a comunicação com outros seres que têm uma outra maneira de denominar e de ver os objetos do mundo. Aprender a ver e denominar o mundo com as palavras do outro, da outra, integra o ser humano na sua própria identidade, a da capacidade para compreender, a da capacidade para superar obstáculos, a da capacidade de superar a ignorância e atingir o conhecimento. Eis o futuro da Humanidade como tal. Nesse caminho, no âmbito europeu, como também a nível planetário, devemos dotar as línguas signadas do status legal que merecem, porque defendendo as línguas signadas, assim como também as línguas faladas nacionais dos povos do planeta, defendemos os direitos das pessoas que as utilizam.

É preciso promover uma cultura do multilinguismo e do sesquilinguismo, onde exista a possibilidade de aprender e conhecer as línguas signadas entre pessoas surdas e não surdas, criando a disciplina optativa de Língua de Signos também para pessoas não surdas nos centros de ensino. O sesquilinguismo, a possibilidade de compreendermos línguas sem que necessariamente saibamos falá-las ou gesticulá-las, deve ser uma opção que potenciemos e normalicemos na vida educativa e na nossa sociedade em geral. O sesquilinguismo genético, aquele que existe entre pessoas que falam línguas diferentes que pertencem à mesma família linguística, é para nós uma oportunidade de aprendermos a perceber com relativa facilidade línguas que pertencem à nossa mesma família linguística, fazendo possível o relacionamento fluído com pessoas que falam outras línguas utilizando cada pessoa a sua própria língua. No nosso caso, um galego e uma galega podem compreender com uma instrução mínima línguas como o Italiano, o Occitano, o Francês, o Catalão,.... Isto, unido ao facto de falarmos Português como língua natural, isto é, nacional da Galiza, e ao facto de conhecermos o Espanhol como língua do Estado em que está inserida a nossa nação, oferece-nos uma oportunidade histórica que podemos e devemos aproveitar.

XAVIER VÁSQUEZ FREIRE,
publicado n'A Conjura dos Néscios: http://aconjuradosnescios.blogspot.com/2009/09/manifesto-plurilinguista-e.html:


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